" Pelo compartilhamento da mesma matéria que organiza nossos corpos, nós, homens, somos todos irmãos. E nós, judeus, cristãos e muçulmanos, compartilhamos uma irmandade consanguínea e espiritual, por nossa descendência comum de Abraão. Filhos de Agar ou de Sara, de Ismael ou de Isaac, viemos daquele mesmo pai. Assim, o laço que nos une deveria ser forte o bastante para não permitir que hoje, tantos anos depois, nossos desentendimentos familiares degenerassem em derramamento de sangue. No entanto, com decepção e espanto, vi o novo século trazer de volta esses ressentimentos que pareciam, se não superados, ao menos passíveis de serem removidos pela palavra, o dom que nos distingue dos outros animais com que compartilhamos a Terra.
Em face do recrudescimento dessas tão antigas mágoas letais, não me restou alternativa senão escrever uma história que mostrasse a irracionalidade da guerra e deixasse clara a responsabilidade humana por ela, que faz de nós, os homens, a vergonha do reino animal, na medida e que somos o único animal a destruir desnecessariamente seu semelhante.
No mais, a história, que se passa nesse lamentável conflito que inaugurou o terceiro milênio, foi escrita pensando nas crianças e nos jovens, pois neles reside a esperança de que, um dia, a humanidade seja capaz de fazer da Terra um lugar em que todos os homens possamos viver como verdadeiros irmãos que somos. [...] "
Fernando Vaz